sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
sábado, 17 de dezembro de 2011
Passageiros
Em resumo, o livro trata de um futuro onde a humanidade foi dominada por alienígenas silenciosos, que tomam a consciência das pessoas. Estas se tornam, então, “hospedeiras” dos invasores.
Não li o livro: li a sinopse da contracapa, as orelhas, parte do prólogo e dei uma folheada rápida.
Foi mais do que suficiente para perceber que se trata, no mínimo, de uma ideia recorrente no mundo da ficção científica. Um conto, em especial, me parece ter servido de inspiração para a autora, e é disso que se trata este texto – ou vocês pensaram que eu escreveria algo sobre A hospedeira?
Refiro-me ao pequeno conto intitulado Passengers (Passageiros), escrito em 1967 pelo norte-americano Robert Silverberg. Para começo de conversa, Silverberg é um dos mais originais e inventivos escritores de todos os tempos. É um daqueles poucos autores da ficção científica cuja literatura se preocupa menos em descrever as maravilhas ou os fracassos vindouros da ciência e mais em tratar das relações, dos dilemas e dos anseios humanos, sempre de uma forma tocante e elaboradamente ousada. Para isso ele utiliza como artifícios, aí sim, o futuro, a tecnologia fantástica, a robótica, os alienígenas etc etc. No rol de escritores que escrevem assim podemos inserir, também, Philip K. Dick e Ray Bradbury. Destes, sem dúvida Silverberg é o mais sensível.
Passageiros (escrito em 1967, quando o homem sequer tinha chegado à lua) é um conto de 13 páginas, narrado na primeira pessoa e em tempo presente. O narrador acaba de se ver livre de um hospedeiro, que o possuiu pelos últimos dias. Ele não sabe por quanto tempo, exatamente – tudo o que se recorda foi que estava no trabalho pela manhã, três dias atrás. Mas ele não se lembra da tarde de terça: “Deve ter sido quando o Passageiro me possuiu. Talvez no trabalho, talvez na própria sala de reuniões, durante a palestra. Rostos rosados e preocupados ao meu redor; tusso, balanço o corpo, caio da cadeira. Eles balançam a cabeça com tristeza. Ninguém me dá a mão. Ninguém me impede. É muito perigoso interferir com alguém que está com um Passageiro. A possibilidade de um segundo Passageiro estar espreitando próximo em estado incorpóreo, esperando por um hospedeiro, é grande. Assim, evitam-me.”
Ser possuído é isso: algo terrivelmente humilhante para todos, mas não há o que fazer; a humanidade está à mercê desses seres invisíveis e silenciosos e, a esta altura, já adaptada à presença deles. Convive-se com esta horrorosa estranheza pelas ruas: num bar, no ônibus, no trabalho, há sempre alguém com olhos absortos e comportamento inconveniente; está possuído por um Passageiro. A “posse”, no caso, pode durar um ou mais dias. Não se sabe quando começa nem quando termina.
Após nos apresentar este medonho estado de coisas, o narrador, sempre no tempo presente, sai às ruas, ainda curtindo a “ressaca” causada pelo passageiro. É quando se encontra com alguém que irá determinar o restante do conto: uma mulher, que ele inexplicavelmente se recorda de ter dormido com ela durante o transe. Naturalmente ela também estava possuída por um passageiro.
Silverberg trata, em poucas e enxutas páginas, da mais terrível sensação de solidão humana que se pode imaginar. Nesta sua pequena história de fantasmas, estamos todos sós e aprisionados em um destino inexorável, subjugados por espíritos que nem sequer podemos ver, que nos fazem transformar nas mais vis e degradantes criaturas – e que no final das contas somos nós mesmos.
Rapaz, isso é literatura! Mexe com nossas emoções, excita, amedronta. Me faz pensar: “E se acontecesse algo assim, de verdade? Putz!”
Por essas e por outras: não li o livro A hospedeira, e por isso mesmo não desejo aqui cometer a irracionalidade indelicada de criticá-lo. Mas aconselho àqueles que leram, que procurem pelo conto Passageiros, e façam suas comparações entre estas duas leituras que, aparentemente, tratam de temáticas similares.
Esse conto eu li na excepcional coletânea “Mutantes”, lançada por aqui pela editora Melhoramentos no início da década de 1990. Além dele, o livro reúne outras nove pérolas de Roberto Silverberg, uma melhor do que a outra. Ontem, por coincidência, encontrei no sebo do Ânderson, no centro de BH, um pequeno livro do autor, ‘Uma pequena morte”, publicado pela editora 34. Um achado, já que Silverberg, ao que me consta, não é tão conhecido por aqui. Os outros livros que tenho dele são de edição portuguesa.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
NO FIQ
Rapaz, o FIQ foi uma coisa hein?
De ontem - segunda-feira, um dia após o encerramento do evento - para hoje, só vejo na web comentários, elogios, fotografias e lembranças deste que deve ter sido um dos festivais de quadrinhos mais felizes de todos os tempos.
De nossa parte parte, não tem como não ficar feliz e envaidecido. Cumprimos nossa missão - criar, imprimir e lançar uma revista "feita-em-casa" com hqs, desenhos e textos dos convidados. Bem, com todas as dificuldades e algumas falhas, creio que a revista não ficou mal. Quer dizer, ficou bacana, vá. E vou te dizer: não tem preço a simpatia e a solicitude com que nos receberam os convidados Bill Sienkiewicz - autor da capa sensacional -, Olivier Martin, Calpurnio e Cyril Pedrosa. Além deles, meu agradecimento sincero também ao jornalista Paulo Ramos, e a todos os colaboradores da publicação: Duke, Marcelo Lelis, Alves, Felipe Nunes, Erick Azevedo, a turma dos quadrinhos Dependentes, Rafael Coutinho, Marcos Wenceslau, Will, Gabriel Góes, Yuri Moraes, Sama, Irrthum, Giorgio Galli, Guazzelli, Gabriel Bá... Wow, acho que não faltou ninguém.
Além da revista artesanal, lançamos a Graffiti 22 - distribuição gratuita, todo mundo do FIQ deve ter uma. Espero que gostem. E aguardem porque vem aí o novo álbum da coleção "100% quadrinhos", de autoria do Evando Alves.
Fiquei muito contente também com a imensa e ativa participação do público. O que prova - de novo e cada vez mais - que quadrinhos não é uma "coisa estranha", excêntrica. Todo mundo lê quadrinhos. Uns mais, outros menos, mas todo mundo lê, ou leu, ou vai ler. E dessa vez - mérito direto do Afonso Andrade e do Daniel Werneck, criadores do conceito deste festival - a participação do público foi propositiva. A Serraria Souza Pinto virou uma imensa oficina de criação - não era só a nossa - com seus vários OuBaPo, Estúdio ao vivo, flash pages, oficinas, a Gibiteca... Se, por um lado, havia menos exposições - talvez reflexo da ausência do até então parceiro Roberto, da Casa 21 -, por outro havia toda essa movimentação e dinamismo, que fizeram com que o público interagisse mais e, tenho certeza, gostasse ainda mais do FIQ.
Os independentes deram as caras mais uma vez, mas agora - com bem disse o Paulo Ramos, tanto no seu blog quanto no texto que fez para a Graffiti FIQ - com maior qualidade, conteúdo e esmero gráfico. Na mesa que participei, "Auto-publicação" - junto com Gustavo Duarte, Flavio Luiz e Pedro Franz - ensaiamos uma explicação para este crescimento. Digo ensaiamos porque é uma conversa longa. Tivemos uma hora de bate-papo - bem legal por sinal - e não deu tempo de discorrermos sobre tudo o que envolve este fenômeno. Mas encontramos um ponto pacífico: as fronteiras entre o chamado "quadrinho independente" e o "quadrinho de editora" estão se reduzindo e se confundindo. Editoras como a Zarabatana trabalham de forma quase artesanal, com tiragens baixas, processo lento de produção e uma relação com os autores muito mais pessoal e intimista. Na minha opinião os quadrinhos rumam para aquilo que já aconteceu com a música, ou seja, uma segmentação cada vez maior, o que acaba por viabilizar o formato independente. Não há mais, em diversos setores, sobretudo na cultura, o velho compromisso industrial de produção - equipes enormes, cada qual com sua tarefa (agora o autor faz tudo, ou quase tudo, da produção gráfica à divulgação), tiragens maiores ainda, distribuição terceirizada e impessoal. As coisas mudaram mesmo, e este FIQ, com o sucesso dos quadrinhos independentes, é prova cabal disso.
Por fim, devo dizer que conheci muita gente legal - muitos eu já conhecia por redes sociais, mas aí não vale -, a saber: Delfin, Heitor Pitombo, Sama, o pessoal do Ceará, o Rafael Coutinho ("a Graffiti é a melhor revista independente do país...", dizia ele quando passei por lá), o Odyr, velho colaborador da revista que nunca havia conhecido pessoalmente, Guilherme Kroll, Pedro Franz, Gustavo Duarte, Jill Thompson, Sienkiewicz, Yuri Moraes, Nunes, Calpurnio, Franco de Rosa, Zema (o amigo do Nilson), os franceses Olivier e Cyril, e mais uma pá de gente que eu ou não me recordo do nome ou não me recordo que encontrei. E, claro, revi velhos amigos e muita gente legal que a gente só vê no FIQ ou no HQ Mix: Sidão, Paulo Ramos, Milena Azevedo, Gual, os irmãos Gabriel e Fábio, a turma do 4º Mundo - Daniel Esteves, Will, Ana Recalde, Caio Majado, Mario Cau -, Claudio Martini, Cadu Simões, Leonardo Melo, Will Conrad, Eddy Barrows, Eloyr Pacheco, Guazzelli, Vitor Caffaggi, etc etc etc.
Faltou falar do que comprei neste FIQ. Por incrível que pareça - não foi nenhuma predisposição - é tudo brasileiro. Adorei mesmo o Duotone, do Vitor Caffaggi, e o pequeno mas genial Ryotiras, do Ryot. Além deles comprei os dois do Pedro Franz - Promessas de amor... -, as duas revistas do Odyr - acho que se chama "Primeira edição", o albão do Rafael Coutinho, lindo demais, o Nanquim descartável 4, que eu não tinha ainda, o SOS do Nunes, o livro da Chiquinha. E ganhei uma pá de coisas, agradeço muito.
PS As fotos são do Rafael, cujo álbum completo pode ser visto aqui. A foto do bate-papo é da FMC. Retirei daqui.
Pos-postagem: é claro que faltaria algo na lista de agradecimentos. Sempre acaba faltando, naturalmente, aquilo que é mais óbvio, que está mais na cara da gente. Já diria o detetive Dupin, do Poe, lá por volta de 1800 e alguma coisa.
A nossa equipe de trabalho! As maravilhosas garotas da OiKabum!, Anna, Liu, Luiza, além do Chacal. E do grande velho amigo Guga Schultze (obrigado por me fazer lembrar), que além de desenhar duas páginas maravilhosas para a revista, ainda foi o melhor "public relations" do FIQ!
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Graffiti 22 vem aí!
Não percam!
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Oficina de quadrinhos experimentais
Ministro, amanhã, na Casa UNA (um antigo casarão, espaço super bonito que fica ao lado da universidade UNA, no centro de Belo Horizonte), oficina de quadrinhos experimentais para jovens a partir dos 12 anos.
Na oficina os alunos criarão uma pequena HQ utilizando materiais alternativos e explorando a linguagem sequencial de outras formas, para além do tradicional.
É gratis, mediante inscrição!
Mais informações aqui.
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Preview para a próxima Graffiti!
A Graffiti 22 vai ser lançada durante o Festival de Quadrinhos!
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
domingo, 14 de agosto de 2011
lançamento da Graffiti
De lá pra cá, muita coisa mudou. Ditaduras caíram, Bin Laden morreu, os EUA quebraram.
E a Graffiti nova tá pronta. Deu trabalho. É uma nova-velha revista, um fanzine, uma pequena bíblia do gutenberg, porque feita - impressa - em casa, artesanalmente. Ready-made.
Vamo quebrar tudo.
domingo, 7 de agosto de 2011
Debate "História em Quadrinhos no Brasil: Presente e Futuro"
O evento é gratuito, claro, e acontece na próxima quinta, 11 de agosto, às 19h30, no Oi Futuro - Avenida Afonso Pena 4001, Belo Horizonte.
sexta-feira, 29 de abril de 2011
Evento de Quadrinhos na UFMG
Participo, neste sábado, do evento "Quadrinho - Trabalho Coletivo", idealizado pela Nação HQ e pela Faculdade de Letras da UFMG.
O bate-papo comigo acontece às 14h, mas a programação é mais extensa. Confira aqui o que vai rolar.
segunda-feira, 28 de março de 2011
Sobre o curso de adaptação de quadrinhos
Então, tem gente desconfiada em fazer o curso por considerar que "não sabe" desenhar.
Pois saibam que este não é, absolutamente, pré-requisito para participar.
As noções técnicas de desenho, aplicadas pelo Piero Bagnariol, serão um recurso a mais para a criação das adaptações de textos para quadrinhos, que podem ser na forma de storyboards e privilegiam noções narrativas, de tempo e de espaço, bem como noções de pesquisa audiovisual.
Resumindo: pode vir pro curso sem medo!
terça-feira, 15 de março de 2011
Alves na Gibiteca
No próximo sábado, 19 de março, o convidado para o bate-papo (do qual já participaram Laerte e Eddy Barrows) vai ser o Alves, cartunista e amigo de longa data. O Alves publica regularmente na Mad e já publicou muito na Graffiti. Se tudo der certo, ainda publicaremos um álbum seu.
Mais informações no blog do próprio Alves.
segunda-feira, 14 de março de 2011
Curso de adaptação para quadrinhos
Quero divulgar o curso que eu e o Piero Bagnariol vamos ministrar em abril, na Escola Giramundo.
Será um curso de Adaptação de textos para histórias em quadrinhos.
O curso se destina àqueles que já trabalham com artes visuais e com a narração por imagens, aos iniciados e interessados em geral.
Tem como propósito a elaboração de narrativas por imagens a partir da edição de textos produzidos pelos participantes ou da adaptação de contos de domínio público. A atividade terá como enfoque a realização de histórias em quadrinhos e “storyboards”, ou projetos de histórias em quadrinhos na forma de esboço. Serão abordados também noções técnicas de desenho e narrativa aplicadas às histórias em quadrinhos.
A adaptação de textos para a forma dos quadrinhos possibilita a visualização da narrativa original sob a perspectiva gráfica, inserindo noções espaciais (cenografia, composição de personagens, figurinos) e subjetivas (velocidade, timing, intensidade).
O cuso será realizado na sede do Museu Giramundo, dia 11 a 15 de abril e tem um valor de R$ 300,00 por aluno, com duração de 35h. O aluno deverá trazer o seguinte material: 1 bloco para desenho superwhite A4, 1 lápis HB, 1 caneta Bic Metal Point preta e 1 régua de 30 cm. O restante do material a ser utilizado será fornecido.
Mais informações e preenchimento da ficha de inscrição no site do Giramundo.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Eddy Barrows na Gibiteca
No próximo sábado, dia 26, vai rolar mais uma edição do "Conversa em Quadrinhos", que já teve o Laerte. Dessa vez o convidado é o Eddy Barrows, brasileiro que desenha o Superman e que tem uma história, acho, bem bacana e interessante.
É grátis!