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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Nossa* participação no FIQ


George Pérez desenha para o Paratodos

Quando Afonso nos convidou para o FIQ 2013, mais uma vez com a ideia de imprimir algo dentro da Serraria (como fizemos em 2011 com a Graffiti FIQ), confesso que me vieram em mente duas coisas. A primeira é que, até então, eu não tinha tanta certeza se nossa experiência no FIQ 2011 tinha sido assim bem-sucedida. Não sei se a revista que saiu no fim das contas foi a que esperávamos. Foi o que deu pra sair, esta é a verdade, pois as dificuldades e desafios foram maiores do que o previsto. Mas, bem, se nós recebemos novo convite, para repetir tudo este ano, é porque algo de bacana teve, e isso me deixou mais aliviado.
A segunda coisa que me veio em mente foi: “cara, não vou encarar esta história de ‘métodos artesanais de impressão’ de novo!” Porque pode até ter sido legal, mas foi muito sofrido. Então a ideia do Piero, de utilizar uma fotocopiadora de última geração, veio a calhar. Somado a isso, havia outro questionamento interno: entre uma edição do festival e outra, a Graffiti (a revista) havia fechado as portas! Iríamos ressuscitá-la neste FIQ? Aí surgiu a ideia do Paratodos – um jornal diário para cobrir jornalisticamente o festival, de dentro para fora. Que pudesse de alguma forma retroalimentar o FIQ de informações e atualizações.
Porque “Paratodos”? Desde que começamos a ventilar a ideia de um jornal, a proposta era a de, ao mesmo tempo em que fôssemos um canal de notícias, pudéssemos também prestar homenagem a alguns dos principais momentos históricos da HQ mundial. De cara, imaginamos cada edição remetendo, graficamente, a estes momentos, que seriam os seguintes: linha clara e quadrinhos europeus; quadrinhos underground e “comix”; era de ouro dos quadrinhos americanos e quadrinhos brasileiros independentes. Depois resolvemos fazer uma quinta edição (de início eram apenas quatro), e esta ficou sem tema. Para completar, o nome “Paratodos” veio no esteio das homenagens, agora para reverenciar esta lindíssima publicação do início do século XX, editada e ilustrada pelo imortal J. Carlos.
Mas na prática a teoria é outra, como se diz por aí. Diante da inevitabilidade do prazo curto, pois tínhamos que fechar as edições no início de cada tarde, tivemos sérias dificuldades em sustentar a parte gráfica do jornal. Ideal é que pudéssemos, munidos de referencial histórico (revistas em quadrinhos de cada época contemplada, obviamente), criar temas para cada edição, que fossem completamente diferentes uns dos outros e que remetessem diretamente aos momentos históricos citados acima. Seria lindo que o layout de cada número fosse único e exclusivo, e mais bacana ainda se os conteúdos correspondessem ao visual. Mas não é fácil agendar, entrevistar, decupar, editar, revisar e ainda criar graficamente em 24 horas. O Paratodos tornou-se, então, um veículo quase que exclusivamente jornalístico. Deixamos um pouco de lado o cuidado e o esmero gráficos, como sempre fizemos quando produzíamos a Graffiti.  Mesmo assim, encontramos boas soluções para as capas – como a edição 2, com desenho de uma moça que veio de Curitiba especialmente para o Festival, ou a 4, com foto do Laerte, sem texto.
Por outro lado, se me permitem uma autocrítica positiva, acho que fomos excepcionalmente  bem nos textos. Os textos de abertura (#1) e de fechamento do FIQ (#5) são matérias robustas, reflexivas e cujos pontos de vista diferem, em parte, de outras visões a respeito do Festival que tenho visto por aí. O que merece uma discussão a respeito. Mas isso é assunto para outro momento. Também merece destaque a acertada escolha da Priscila Cristina como nossa colunista. A Priscila foi escolhida como um contraponto: além de escrever bem, ela não entendia nada de quadrinhos e tinha uma visão estereotipada sobre quadrinistas e apreciadores de hq. Resolvemos, justamente, explorar isso.




Escrever textos pertinentes, que pudessem interessar ao grande público do Festival, editá-los, revisá-los, fotografar, diagramar e cuidar para que as impressões ficassem boas, diariamente e sem concessões (apenas nossos atrasos para soltar as edições), isso tudo somado, foi uma tarefa hercúlea e de intensa pressão. Todo mundo me perguntava: “Mas vocês são malucos? Masoquistas?” De fato foi algo exaustivo, que me fez – mais uma vez – perder praticamente tudo o que aconteceu no FIQ (só participei de uma mesa – aquela em que fui mediador). Mas foi recompensador!
Adorei a experiência. Foi lindo criar um veículo que, a certo ponto do dia, era a referência de informações do Festival. Todos procuravam o Paratodos: os convidados, os expositores, o pessoal que estava trabalhando no evento, e, claro, o grande e enorme público. Foi gratificante saber que éramos um canal de divulgação para os lançamentos, os estandes, as festas e os eventos que estavam acontecendo. Pena não podermos divulgar tudo: todo dia, muita coisa ficava de fora.
Conseguimos montar uma minirredação, formada por um pessoal muito criativo, competente e voluntarioso, que se comprometeu com a qualidade, os prazos e as exigências a que nos propusemos, de antemão, a cumprir. Essa equipe, aos poucos, ficou bastante entrosada. Ah, se o FIQ tivesse dez dias ao invés de cinco! Rsrrs. Mas não há o que reclamar. Este time foi formado pelas jovens formandas da Oi Kabum, Isabela Campelo, Luisa Alcântara e Priscila Cristina, além do Bruno Azevêdo, genial escritor e quadrinista de São Luis, que topou nosso desafio e não pisou na bola, o Erick Azevedo, roteirista, educador e também grande escritor, além de mim, do Rafael e do Piero, os remanescentes da velha e boa Graffiti. Tivemos, por fim, a inestimável contribuição do Guga Schultze, um dos convidados do FIQ, nosso colaborador de longa data e do qual somos fãs, além do Ricardo Martins, velho camarada. E, claro, de muitos outros artistas e convidados do FIQ que se dispuseram a colaborar, seja com tiras e ilustrações, seja com entrevistas.
Devo meus agradecimentos, por fim, em nome de toda a equipe do Paratodos, ao Ivo Milazzo, ao Laerte, ao Geoge Pérez, ao Peter Kuper, ao Afonso, ao Daniel Werneck, ao Cristiano Seixas, ao Carlos da Livraria Leitura, ao Heitor Pitombo (que escreveu até matéria pro jornal), ao Marcelo D´Salete, ao Jeremie Nsingi, ao Jal, à Sonia Luyten, ao Luis Felipe Garrocho, e a todos os que se dispuseram a dar uma palavrinha, ou a ceder alguns minutos de contribuição para o jornal.
Serei sincero: neste momento, no calor do pós-guerra, não sei se quero repetir a experiência em 2015. Participar do FIQ de alguma forma, coisa que ocorre praticamente desde 1999, é sempre uma honra e uma motivação muito grande. Mas não posso esconder que esta foi a mais cansativa e exigente de todas as participações!


*Graffiti

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