Páginas

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Monstro Souza

então, li O Monstro Souza, o aguardado livro do maranhense Bruno Azevêdo, amigo e colaborador da Graffiti.


1 – É uma história lépida e veloz, dinamizada por um projeto gráfico todo particular, que mistura notícias de jornal – que, reais, complementam o enredo – , ilustrações, quadrinhos, publicidade e até um rpg. Eis que temos um cachorro-quente de uma tradicional barraca de São Luis – o “Souza” - que, desperdiçado, sofre a ação de um relâmpago durante uma tempestade e – fenômeno típico e usual nas origens dos super-heróis – se tranforma em um “rótidog” vivo, gigante e ambulante. Perdido em sua nova experiência como ser vivo, o monstro acaba por encontrar refúgio entre o baixo meretrício da capital maranhense. Posteriormente, se torna um insensível e sanguinário psicopata. Suas vítimas: aqueles que acabaram de consumir um cachorro-quente da barraca do Souza.

2 – Bruno Azevêdo, em seu segundo romance, desta vez em parceria com Gabriel Girnos, que co-assina a obra, retoma o cenário do primeiro livro, Breganejo Blues. A região central de São Luis, e alguns de seus locais marcantes, são explorados pelo autor e seus personagens. Pra mim, eis aí uma das grandes virtudes do autor e da obra, que não só não renegam a cidade de onde vieram, como a utilizam e valorizam seus cenários. Claro que a visão de Bruno é cheia de ironia e acidez, mas, também, como não ser?

3 – Souza, o cachorro-quente ambulante, é uma criatura nojenta e escatológica, cujas referências podem ser buscadas nos seriados japoneses de monstros, tipo Spectreman e Changeman, e também (talvez) no Gargântua de Rabelais. Mas a obra guarda, também, referências, mais ou menos intencionais, aos folhetins baratos de banca (literatura tipo “Julia” e “Sabrina”), aos filmes de bangue-bangue, aos animes, aos contos policiais e urbanos do Rubem Fonseca e à cultura popular, dita “brega”. E, por fim, há muitas e belas homenagens a quadrinhos que certamente fazem o gosto dos autores, como Freak Brothers, Monstro do Pântano, Diomedes e Ken Parker.

4 – É um puta livro, muito bem editado e bonito. As histórias em quadrinhos que o permeiam, especialmente a do Márcio de Castro (“Caralho!”), são bem legais.

5 – Considero que a construção dos vários personagens que passeiam pela história (e são sistematicamente mortos pela criatura) poderia ser mais lenta e gradual, tomar mais conta do livro. Os personagens aparecem, e, quando começam a ficar interessantes, morrem! Não sei se isso foi intencional, mas eu gostaria de saber mais, por exemplo, sobre o delegado Caolho e sobre o tenente Ernestinho.

6 – O apêndice do livro conta com o mapa dos arredores onde a história se passa e com um glossário hilariante. Um deleite.

7 – Pra conseguir um exemplar (custa só 20 reais) é só pedir pro Bruno. Vai aqui: http://www.romancefestifud.blogspot.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário